Mais um dia, mais uma etapa… A 3ª… Por esta altura, já o corpinho está habituado ao ritmo peregrino… Levantar com os primeiros raios de sol, arrumar as tralhas na mochila, comer qq coisita e fazermo-nos ao caminho…
À nossa frente tínhamos a etapa mais longo do caminho… 33km, com uma valente subida até Albergaria, onde visitaríamos o famoso bar das conchas… Mas já estou a por o carro na frente dos bois…
Deixámos o Albergue de Laza pelas 07h40… à nossa frente seguiam o húngaro Gyorgy e um dos franceses. As respectivas esposas (uma delas lesionada) iriam de táxi até Albergaria – 10km mais à frente… E eles iam em passo bem ligeirinho para que elas não ficassem muito tempo à espera. Nós, lá fomos avançando, ao nosso próprio ritmo, apreciando os cheiros e as cores próprios desta hora matinal…
Os primeiros 4km até Soutelo Verde eram de alcatrão, mas a paisagem envolvente era bonita, voltando a passar pelo rio Tâmega, rodeado por muitas árvores, com o limite da serra desenhado por trás, e uma ou outra flor, ainda com o orvalho da manhã a ela colado…
Em Soutelo Verde, passamos pelo centro social do povo, com a omnipresente referência ao peliqueiro, e por uma capela com uma inscrição curiosa que apela aos peregrinos que “salvem as almas dos que estão penando”…
Deixamos para trás Soutelo Verde e rumamos a Tamicelas, com a sua capela – muito idêntica à de Soutelo Verde…
A partir de Tamicelas, é sempre a subir pela ladeira empinada, e colorida de urzes, do Monte Requeixada… Uma subida íngreme, mas absolutamente magnífica… Este foi mesmo um dos melhores trechos do caminho, onde nos fomos cruzando com os italianos e alemães que tínhamos conhecido na véspera, no albergue…
No cimo da subida encontramos a placa que informa que Albergueria já só está a 1km… Yupppieee!!! E às 10h30 chegamos ao famoso Rincon del Peregrino, gerido por Luís Sande, que constitui um dos pontos altos desta etapa. É um cafezito que tem a particularidade de estar todo (mas mesmo todo!!) revestido de vieiras assinadas pelos peregrinos que por aqui passam.
Como não podia deixar de ser, também nós deixámos lá a nossa vieirinha assinada, junto com as milhares (perguntei ao Luís quantas eram, mas ele já lhes perdeu a conta há muito tempo) que por lá estão penduradas… Aproveitámos também para descansar um pouco, brindando com clara de lemón ao caminho e comendo uma valente empanadilla!!!
Pelas 11h fizemo-nos novamente ao colorido caminho que avança neste planalto, levando-nos pelo meio das urzes até à Cruz Alta.
E 40 minutos depois chegávamos ao ponto mais alto desta etapa, a 961m de altitude e a 15km de percurso…
Daqui agora era sempre a descer…
Pelas 13h chegávamos a Vilar de Barrio, onde existe também um albergue. Parámos aqui um pouco, não para nos albergarmos, mas para descansar um pouco. O Ricardo na descida tinha ficado com uma inflamação no tornozelo e convinha dar algum repouso (e gelo) ao pezinho…
Pezinho gelado e tockandar mais um bocado…
Em Vilar de Gomareitte, depois de observarmos (e sermos observados por) umas ovelhinhas, aproveitámos o chafariz para refrescar… O calor estava mesmo a apertar!!
E lá nos metemos a caminho de Bobadela, por estradões de terra, tão direitos, que pareciam não ter fim… As sombras eram também escassas neste trecho do caminho, por isso foi uma alegria quando entrámos novamente em zona de bosque!!
Por aqui fizemos também uma merecida pausa. O pezinho agradeceu a dose extra de Voltaren que recebeu e lá nos metemos a caminho novamente, passando Bobadela e seguindo o carreirinho que nos levou até ao Albergue de Peregrinos!! E que alegria ao lá chegar, registada de imediato pelos nossos amigos húngaros – Edit & Gyorgy, que nos tinham “guardado” os beliches ao lado dos deles!!
Uma vez no albergue foi tempo de descansar, duchar, lavar roupas e a tudo isto um outro ritual adicionar… Por gelo nos pés!!! E depois de tudo isso feito, foi altura de irmos a coxear até Xunqueira de Ambía, ao Café BeJe, onde, depois do belo vinho do ribeiro fruskinho, mais uma sopa de lentilhas, saímos de lá a dançar!!!
Regressámos (já sem dores, que isto o vinho e a sopa faziam milagres!!) ao Albergue para 2 dedos de conversa, misturados com muitos sorrisos e algumas gargalhadas, com o Gyorgy e a Edit. A conversa estava tão boa que até o casal de franceses que conhecêramos na véspera veio lá ter connosco!!
Adormecemos nessa noite com um sorriso muito grande nos lábios… E não, não era o efeito do “ribeiro”, mas antes o efeito da leveza que fica no coração depois de um dia penoso, que culminou com o amanhecer de uma amizade. E agora, tockadormir que amanhã há mais!!!
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