Em dia de Reis, lá parti para mais um passeio na zona de Odrinhas, acompanhando o grupo de Caminheiros Monte da Lua. Começa-se o passeio, junto ao núcleo arqueológico de Odrinhas, para a foto de grupo.
E depois, tockandar, trilho afora, passando um antigo chafariz, junto a uma ribeira. Imagino que este caminho fosse usado há muito, muito tempo, como ligação até Mafra (mas isso é só porque já por 2 ou 3 vezes aqui passei, fazendo a ligação entre Sintra e Mafra)… ;)
Nem mesmo a propósito, as torres do Palácio de Mafra surgem ao longe, recortadas no horizonte…
Deste ponto alto, observamos os monte à volta e metemos pés ao caminho…
Que nos leva até uma linha de moinhos…
Também alinhados, os caminheiros vão passando por estes moinhos, réstias de outrora, de um tempo em que o vento era usado em prol da população
Tornando, pela acção da mó, os grãos de cereais em farinha que com hábeis mãos se transformaria depois em pão…
Com este pensamento em mente, em tons de nostalgia, faz-se mais uma passagem pelos moinhos…
E tockandar pelo trilho fora!! Parecemos uma serpente multicolor, avançando no meio do verde…
Os outros pontos de cor são as flores que se avistam por aqui… Vincas lilases e botões de roseiras silvestres grenás… Uvas de cão vermelhas e alvas gotas de orvalho na folhagem…
Deixamos os campos abertos e enveredamos pelo bosque… Carvalhos vestidos de musgo e altos eucaliptos elevam-nos o olhar para o céu…
À medida que avançamos suavemente sobre o chão alcatifado de folhas, tocando pedras forradas a musgo…
Subimos mais uma ladeira e passamos o que aparenta ser um antigo forno de cal…
Antes de chegarmos a um dos pontos emblemáticos deste passeio… A Aldeia Fantasma de Broas!! Perdida no tempo e abandonada pelas gentes, é como se fosse um portal para um mundo (não tão) antigo, mais calmo, em que se vivia da e com a terra…
Deixamos o que resta da antiga aldeia e continuamos o nosso caminho que nos leva agora, por zonas enlameadas pelas chuvas da véspera, até um belo trilho que ladeia uma das margens da Ribeira de Cabrela.
Esta ribeira, de límpidas águas cristalinas, corre desde o manancial de Algueirão, onde nasce junto à Granja do Marquês, até à Ribeira de Cheleiros, onde desagua a jusante, murmurando pelo caminho canções de outrora…
E foi neste trilho que pude apreciar os laços de amizade desenvolvidos num terno abraço entre 2 caminheiras. Sente-se essa coisa boa que é a energia da amizade, passada por um sorriso cúmplice, de quem caminha lado-a-lado com a Vida…
Mas com tanto caminhar, a fome acaba por chegar!! E é junto à Ribeira que vamos merendar!!
Já de barriguinha saciada, voltamos a dar corda às botas e tockandar, deixando o nosso reflexo nas poças que se formam no trilho…
Mais à frente um deleite para os sentidos!! Flores de narciso de Inverno, ou mijaburro para os amigos!!
São narcissus papyraceus, obtendo este nome científico pela sua alva cor e por as suas pétalas delicadas lembrarem papiro… Exalam um perfume agradável que não deixa ninguém indiferente, à medida que por elas passamos…
Prosseguimos, mantendo a ribeira ao nosso lado e partilhando o trilho com um duo de beteteiros…
E eis que nos deparamos com uma jóia antiga… Uma jóia romana… Elaborada, com arte e mestria, por forma a durar séculos… Eis a Ponte Romana de Cabrela.
Em tempos idos, cruzaria a bela ribeira com o mesmo nome, levando os exércitos romanos, população local e eventuais peregrinos pela calçada romana que faria a eventual ligação entre Sintra e Mafra, pela antiga linha de costa que ligaria Torres Vedras a Lisboa…
Hoje em dia já lhe falta uma parte, levada por uma cheia há um par de anos, tendo sido “restaurada” com madeira… Ainda assim, vale a pena cruzá-la, apreciando a forma como foi projectada, com as travessas em v, por forma a vencer a força das águas que por ela passam…
E enquanto alguns de nós ficáramos a observar a bela ponte, o resto do grupo já avançara… Então, tockadar corda às botinhas e zuca, monte acima!!! Só os apanhámos quando nos cruzámos com um rebanho de cabritas!! E depois lá seguimos, meio espalhados pelo monte, qual fila colorida de sorrisos…
No cimo, uma bela flor esperava por nós, junto a um moinho belissimamente recuperado
E mais à frente, uma paisagem irresistível, com flores de trevo azedo que coloriam de amarelo este quadro, contrastando com o verde e o azul… Dois passos acima, eram camomilas (ou margaças) que pintavam de branco a tela…
“Psst, psst!”, ouço chamar de entre as flores… Era a T que me convidava a ir até lá. Parecíamos de novo crianças, sorrindo e brincando, no meio das flores…
E depois desta alegre pausa, rapidamente chegámos ao final deste belo passeio que culminou com uma festinha de aniversário ao caminheiro C.
Cantados os Parabéns, brindes feitos, bolinhos comidos, chegava a hora de partir… Até à próxima… Tockandar!!!
O local do passeio até pode ter ajudado, mas o seu trabalho está Fabuloso! Em todas as vertentes, o enquadramento histórico, paisagístico e Humano, casam muito bem. Tem tudo a ver, valorizou cada planta ou flor e valorizou igualmente todos os Gestos. Decalcou cada Sorriso e sublinhou o contentamento e a Alegria de todos nós! Sem deixar desvanecer a necessidade de tockandar!!!
ResponderEliminarGostei muito! Obrigado!
LM
Eu é que agradeço, LM!!
EliminarFoi um belo passeio.
Até breve.
S.Valentim